Grandes empresas em um mercado competitivo enfrentam o desafio de adotar agilidade em um contexto diferente do das startups. Embora desejem a flexibilidade e a capacidade de adaptação das empresas menores, muitas vezes precisam lidar com processos estruturados, hierarquias complexas e desafios culturais, o que pode tornar a transformação mais lenta. A chave está em adaptar os princípios ágeis à escala e complexidade do negócio, sem renunciar a sua essência.
Como empresas de grande porte podem iniciar sua transformação ágil sem perder escalabilidade e encarando esses desafios? É o que iremos desvendar no artigo a seguir!
Os principais desafios de grandes organizações na adoção de métodos ágeis
- Cultura organizacional antiga e resistente
Grandes empresas, principalmente as mais antigas, geralmente possuem uma cultura organizacional enraizada que leva à resistência interna frente a qualquer mudança. Essas empresas também contam com processos consolidados e qualquer alteração neles, principalmente as transformações mais bruscas que uma cultura ágil exige, passam pela necessidade de alinhamento com diferentes stakeholders. Implementar métodos ágeis exige mudança, principalmente de mentalidade, e esta nem sempre é fácil ou rápida.
- Hierarquias complexas e excesso de burocracia
Outra característica de empresas de grande porte é uma hierarquia mais complexa, em diversas camadas, normalmente permeada por excesso de burocracia. Isto leva a uma dificuldade maior na adoção de qualquer mudança de fluxo ou processo. As complexidades neste tipo de empresa atrasam as tomadas de decisões, tornam a comunicação entre os envolvidos nos processos menos eficaz, e faz com que as pessoas envolvidas sejam mais adeptas à conformidade e regras antigas, preferindo permanecer em sua zona de conforto. Tudo isso vai em desencontro com a mentalidade ágil, que visa decisões e alinhamentos rápidos e menos burocráticos, além de uma maior colaboração entre times e stakeholders a fim de otimizar processos.
- “Desalinhamento” entre times
Como citado anteriormente, graças às hierarquias complexas, muitas vezes grandes empresas também têm problemas de falta de alinhamento entre times e stakeholders, dificultando o trabalho mais colaborativo que é característico da cultura ágil.
- Infraestruturas inadequadas
Além de processos e fluxos amarrados, é comum que grandes empresas trabalhem com sistemas legados que utilizam tecnologias defasadas, muitas vezes até com falta de profissionais qualificados para implementar tecnologias mais modernas. Situações assim acabam dificultando a escalabilidade do uso de práticas ágeis na organização.
Como superar desafios com ferramentas e frameworks para escalar agilidade
- SAFe ou Scaled Agile Framework:
O SAFe combina práticas de Scrum, Kanban e Lean, e ajuda grandes corporações a adotar e escalar metodologias ágeis em seus processos. Ele organiza e estrutura as equipes em diferentes níveis:
- Time: de característica autônoma, utilizam Scrum ou Kanban no dia a dia.
- Programa: com uma estrutura de 5 a 12 times ágeis que atuam juntas em ART (Agile Release Train), terão ações sincronizadas para que um objetivo, produto ou negócio seja alcançado, fazendo uso de ciclos de planejamento e execução com o objetivo principal na entrega de valor para o cliente.
- Portfólio: adaptam e alinham a execução dos projetos principais à estrutura organizacional da empresa em atuação, priorizando sempre investimentos grandes.
O SAFe também pratica o planejamento colaborativo, conhecido como PI Planning, com frequência de 8 a 12 semanas. Alinhamentos, estratégias e ações são compartilhados entre todos os times envolvidos, assim como objetivos. Além disso, ele trabalha com o conceito do Lean, direcionado para entregas rápidas, melhorias contínuas e com o cliente sempre em foco.
O SAFe facilita o alinhamento estratégico na organização, promovendo a transparência nos processos e fluxos. Esse sistema tem fluidez em sua escalabilidade e agilidade até em projetos de grande porte. No entanto, ele deve ser inserido em organizações que possuem um mínimo de maturidade ágil.
- LeSS ou Large-Scale Scrum
O LeSS é um “framework” que escala o Scrum em grandes organizações, mantendo sempre a simplicidade de seu framework pai. Ele auxilia no trabalho simultâneo entre vários times que dividem um único produto, ajudando-os a atuar de forma sincronizada e com foco em entrega contínua de valor.
Ele tem como uma das suas principais características um backlog único de produto, com a atuação de um único PO e de diversos times com o mesmo objetivo. O LeSS trabalha com times cross-funcionais, cada um possuindo características e habilidades necessárias para gerar incrementos de forma independente, com autonomia e eficiência para entregar valor.
Esse framework trabalha com os timeboxes do Scrum, mas com algumas adaptações:
- Sprint planning: a planning é dividida em duas etapas, sendo a primeira um planejamento feito em conjunto entre todos os times, e a segunda o detalhamento das tarefas de cada equipe de acordo com demandas, funcionalidades e características.
- Daily scrum: as dailys são feitas de forma individual, sendo cada uma para seu time.
- Retrospectiva: cada time faz a sua retrospectiva de forma individual, focando em melhorias e propostas para a sua realidade, seguida de uma reunião conjunta entre os times para serem detalhadas as melhorias cross.
O LeSS minimiza hierarquias e foca em decisões descentralizadas, visando sempre a auto-organização. Sua prioridade está em uma entrega contínua de valor, absorvendo aprendizados nos processos e com feedbacks constantes.
- OKRs ou Objectives and Key Results
As OKRs são uma metodologia composta por metas que conectam objetivos qualitativos com resultados mensuráveis. Sua estrutura principal é dividida entre Objetivo Qualitativo e Resultados-Chave, com métricas específicas e mensuráveis.
A metodologia tem como prioridade o foco e a clareza, fazendo uso de 3 a 5 objetivos por ciclos que são, geralmente, trimestrais. Foca na transparência, com metas visíveis a todos os envolvidos nos processos, e tem ambições desafiadoras, mas alcançáveis.
Ela promove um alinhamento organizacional e engaja os times, focando sempre em resultados e não em atividades individuais, e facilita ajustes rápidos por ciclos curtos, promovendo assim a inovação. É uma metodologia aplicável a organizações de qualquer porte.
Práticas para o sucesso ao escalar a agilidade na sua organização
Algumas práticas são essenciais para garantir o sucesso na implementação de agilidade na sua empresa. Uma delas é investir em treinamentos, capacitando bem líderes e colaboradores sobre os princípios ágeis, práticas e detalhes de cada framework que irá compor o processo. Quanto mais alinhado o time, mais alcance terá a implantação.
Também é essencial determinar líderes de áreas e/ou setores que serão responsáveis pelos mapeamentos de processos e que defenderão a agilidade na organização, além de auxiliarem no processo de implantação.
A agilidade é um processo evolutivo. Entender isso e revisar sempre que necessário o funcionamento dos fluxos, ajustando-os conforme preciso, é a chave para uma transformação ágil eficiente.
Principalmente, é essencial uma comunicação transparente com todos os envolvidos nesse processo, deixando claros os ônus e os bônus da transformação ágil, pois isso incentivará a implantação.
Conclusão
Escalar a agilidade em organizações de grande porte é um desafio, mas não é uma ação impossível. Embora existam alguns dificultadores como culturas resistentes, hierarquias complexas e tecnologias legadas, o uso de ferramentas e frameworks como os apresentados neste texto facilitam o alinhamento entre os times, otimizando a comunicação e auxiliando na entrega rápida de valor.
É preciso entender que este processo de transformação ágil não depende somente de processos e frameworks, mas também de mudanças genuínas de mentalidade dos grupos envolvidos em todos os níveis hierárquicos. Por isso o investimento em treinamentos é essencial, além do alinhamento de expectativas e transparência no processo.
Escalar a agilidade é muito mais do que somente estratégia, é um compromisso com a história e cultura da organização e suas pessoas. Empresas que enfrentam estes desafios com seus times e de forma humanizada, não só se adaptam melhor às mudanças, como também saem em disparada na vantagem competitiva em relação a outras organizações.
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